quarta-feira, 25 de maio de 2016

Obreiros

Nossos relacionamentos são castelos. 
Temos os castelos da família, dos amigos, do namorado(a), o nosso próprio castelo, enfim, castelos de relacionamentos de todos os tipos que possamos firmar.
Ao longo da vida, nós vamos construindo os nossos castelos conforme as oportunidades nos são dadas.
De que cor? Neutra, vibrante, sóbria? Que material? Resistente, frágil, caro, o primeiro que aparecer? Qual será sua arquitetura? Seu tamanho? O que terá dentro?

Ao longo da vida, nós tomamos diversas escolhas para a construção dos nossos castelos e, assim, ele vai crescendo. 
Eventualmente, o tempo, os ventos, as intempéries vão nos mostrando suas fragilidades. E é nesse momento que a gente se vê de frente a uma das maiores dificuldades em relacionamentos: dedicar tempo às rachaduras.

Nesse momento que o castelo está pendente, nós sabemos que ele tem risco de deixar feridos. Parte de sua construção pode ceder, e se deixarmos várias falhas, ele pode desabar por vez. Tudo, claro, depende do modo com o qual foi construído e reparado, embora mais cedo ou mais tarde até a mais sólida construção, se não sanada em suas necessidades, pode vir a ceder ao tempo.

Eis o fato: o castelo está rachado.
Estamos todos em risco, o castelo está em risco. Nesse momento nós precisamos ter a coragem de entrar, apesar de todos os perigos e medos, e estar de frente à rachadura. Nós precisamos ter a coragem não só de vê-la, como também entendê-la. O que vamos fazer?

Deixamos lá a rachadura? Reparamos a rachadura? Trocamos esta parede? O material? Colocamos novas vigas? Consideramos que é desimportante e inofensiva e vamos embora? 
A cada momento que vemos uma fragilidade, o futuro dos nossos castelos está em jogo; se as deixamos passar ou pegamos esta possibilidade para solidificar nossa construção.

Nesse jogo não jogamos sozinhos. Dependemos de outras pessoas, com quem nos relacionamos, nesta construção. Às vezes um bota uma peça nova, às vezes outro. Às vezes um esburaca um cômodo, às vezes outro. Às vezes um conserta, às vezes outro. E tudo isso é normal, é natural - nosso castelo é uma construção e destruição constante e conjunta.

Precisamos do apoio dos outros. Precisamos de consentimento. Dependemos de atitudes. 
Um castelo com rachaduras se fragiliza ao tempo. Não resiste a ventos fortes, não resiste a tempestades. Quando chove, fica frio. Muito frio. Frio ao ponto de quem está lá, querer sair deste inverno perene, e construir um novo castelo em que seja capaz de aquecer-se. Nossas almas precisam estar quentes.

Quando ignoramos buracos, esquecimentos, rachaduras, poeira, estamos ignorando o frio que dá toda vez que anoitece, que venta, que chove. Estamos deixando nosso castelo que uma vez foi lindo relegado ao tempo, que fatalmente tramará sua demolição. Não podemos deixar nosso castelo ficar frio por muito tempo...

Uma rachadura traduz uma dor, e a única forma de sanar uma dor é amando. Dando amor e recebendo amor. As pessoas do nosso castelo, tendo amor e coragem, nos ajudarão a reparar as rachaduras. Elas entenderão nosso frio (que porventura também é o frio delas) e estarão do nosso lado vendo a melhor forma de tapar cada buraco, selar cada falha, limpar cada cômodo. As pessoas que não têm coragem nos deixarão na área de perigo, reparando tudo sozinhos. 
E as pessoas que não têm amor apenas nos trarão à pele mais e mais inverno.

Amigos, todo castelo apresentará rachaduras um dia. Prestemos muita atenção. Nossos castelos podem parecer robustos, mas haverão momentos de frio. Não deixemos buracos se acumularem. 
Aproveitemos cada oportunidade para criar mais coragem, mais experiência em reparos, levantemo-nos e vamos ao local de risco. 
Na vida estamos sujeitos a riscos constantemente. Não deixem que o risco do frio torne-se o risco de desabar.
Trabalhemos juntos, sempre, com amor e muita coragem. 


Porque ninguém disse que construir castelos lindos é fácil.