domingo, 5 de setembro de 2021

Estradas

Quando o tempo passa e as chances mudam, os caminhos se desbotam e não se pode mais voltar, o viajante constantemente se vê a pensar.

Esses entrecortes de estradas nada mais significam que oportunidades. A cada caminho escolhido, há outros diversos relegados ao desvanecer da memória. Aos futuros de pretérito, às especulações e ao esquecimento. 

Quando o tempo passa e as chances mudam e os caminhos se desbotam, o viajante percebe que o problema não é estar onde está no momento, mas ter deixado de estar em outros lugares. A falta não é do que não se tem, mas do que não se fez. Dos passos que não deu, das estradas que não cruzou, da paisagem que não apreciou, das pedras que não retirou, das flores que não colheu e das sementes que não plantou.

O arrependimento jamais será do passo que se deu falho, da pedra que se fez tropeçar, do caminho que se fez encontrar. Estes, o destino lhe guardou. Com estes, aprendeu a superação e adquiriu sabedoria. Estes lhe permitiram ser um homem maior.
Dos sentimentos enforcados, do grito calado, do sonho enfurnado, entretanto, o arrependimento não esquece. 

Nenhum fruto podre, jamais, irá revelar-se mais amargo que a semente que não se plantou. 
Nenhum pesadelo, jamais, atormentará mais que aquele que outrora fora um sonho inconcretizado.

O viajante percebe, quando o tempo passa e as estradas se desbotam, o inegável peso de sua mochila: 
A única saudade que fica é a saudade do que nunca foi, e podia ter sido.