domingo, 22 de abril de 2012

Pus o meu sonho num navio.

    Pus o meu sonho num navio
    e o navio em cima do mar;
    - depois, abri o mar com as mãos,
    para o meu sonho naufragar.
      Minhas mãos ainda estão molhadas
      do azul das ondas entreabertas,
      e a cor que escorre de meus dedos
      colore as areias desertas.
        O vento vem vindo de longe,
        a noite se curva de frio;
        debaixo da água vai morrendo
        meu sonho, dentro de um navio…
          Chorarei quanto for preciso,
          para fazer com que o mar cresça,
          e o meu navio chegue ao fundo
          e o meu sonho desapareça.
            Depois, tudo estará perfeito:
            praia lisa, águas ordenadas,
            meus olhos secos como pedras
            e as minhas duas mãos quebradas.

          (Cecília Meirelles)

          Nenhum comentário: