quinta-feira, 21 de maio de 2015

Girassóis

Eu ganhei uma flor. 
A flor eu sempre quis ganhar: um girassol.
Logo o girassol, que nasce verde de esperança e resplandece amarelo de alegria. Que passa o dia voltado à luz, deixando as sombras para trás.
Mal sabia que ele ainda iria me ensinar tantas coisas.

Dia a dia, olhava maravilhada para essa planta que me conquistara de primeira, regando-a, colocando-a cuidadosamente no lugar mais iluminado da casa.
Até que a sua primeira folha fez-se marrom.
Será que não havia cuidado direito dela? O que deveria ter feito? Por que morreu, assim, logo nos primeiros dias?

Redobrei-me em cuidados, com um quê de remorso pelo desfalecimento de minha pequena primeira planta, até que, em outro dia ensolarado, fez-se a surpresa: notei pequenos carocinhos saindo de seu caule.

Dia e outro passaram, e os carocinhos foram aumentando, outras folhas fizeram-se marrons, e do meio desses carocinhos foram saindo coisinhas amarelas.

A natureza tinha me reservado o lindo espetáculo da renovação. Eu não percebera que não era minha culpa que as folhas morriam. Tampouco que a planta precisava desfazer-se delas para desabrochar novas flores, amarelas como a juventude.

Dediquei-me a prestar mais atenção, a partir de então, no desabrochar dos lindos novos girassóis. Atrevo-me a afirmar que poucas coisas são tão belas quanto uma flor que, tímida, vai colocando pétala por pétala para fora. Do que o botão que, de ponto, vira círculo, sol.

De perto, no despertar de um prematuro, já era possível ver pequenas pétalas amarelas espremidas lá dentro. Passou pela minha cabeça: se já estivessem prontas, por que não sair logo? Se eu lhes forçasse a abertura, iriam mostrar-se?
Mais detalhista, analisei os outros botões que brotavam daquele caule verde e saudável. Era verdade: alguns mais, outros menos desenvolvidos - todos estavam nascendo a seu tempo. Mais do que ontem, menos que amanhã.

Aplaquei meus pensamentos e deixei que a natureza me surpreendesse. Que, sem pressa, seja capaz de esperar para surpreender-me amanhã da beleza que eu jamais seria capaz de forçar naquela linda flor. 
Que eu compreendesse que tudo, desde a vida até a menor flor, tem o seu tempo, e que a paciência era uma das mais venturosas virtudes que nos permite, sempre, a surpresa e a beleza do desabrochar.

Do amanhã, o que será?
Novas folhas marrons, novas pétalas, novos botões? 
Deixe que o dia renove-se sempre em seu esplendoroso surpreender. O resto, o tempo trará, por si só.

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