domingo, 26 de junho de 2016

Brincadeira

Um vez, quando tinha algo em torno de meus sete anos, estava num canto da sala inventando uma brincadeira, como gostava de fazer.
Minha irmã mais nova e sua babá estavam por perto. Como uma boa caçula em formação, ela gostava de replicar cada passo e gesto que eu fazia, e não tardou pra pedir para entrar na minha brincadeira (um tanto autossuficiente).
Eu, entretanto, não queria que ela entrasse na minha brincadeira. Como uma boa irmã mais velha, não gostava de ser copiada, e estava bastante satisfeita no meu cantinho com distrações imaginárias. 
- Não tem como eu te ensinar a minha bincadeira
- Por que não?
- Porque ela não existe

Minha irmã, um tanto inconformada com a minha resposta, foi se lamentar com sua babá: Cibele, a Julia não quer que eu entre na brincadeira dela!
Então Cibele foi me perguntar por que.

- Porque essa brincadeira não existe, não tem como eu ensinar!
Era um tanto de verdade.
- Como que ela não existe? Você não estava brincando?
- É que eu acabei de inventar 
- Ué. Mas você já inventou, então. Tudo que não existe só precisa de um bom inventor! Então ela existe agora!

Naquele momento eu fiquei bem revoltada com essa resposta, porque 1) ela tirou meu argumento para não brincar com a minha irmã; 2) se eu inventei a brincadeira eu deveria ter autoridade sobre ela, no sentido de que ensino pra quem eu quiser.

Mas o que eu não sabia era que 14 anos depois esse episódio traçaria todo um novo significado na minha cabeça.
Hoje eu vejo todas as possibilidades e sonhos com uma brincadeira. A gente quer brincar, mas às vezes não tem muita certeza de que isso existe, ou sequer é possível.
Então eu lembro daquela resposta.
Tudo que não existe só está à espera de um bom inventor.

A gente brinca quietinho da nossa brincadeira imaginária, no nosso cantinho, pensando que ela não é tão real ou materializável.
Mas a gente já tá brincando.
A brincadeira já existe: nós já inventamos.
Todos os nossos sonhos, a partir do momento que os criamos, já passaram a existir. Não tem mais volta. 
Fomos condenados a ser felizes.

domingo, 12 de junho de 2016

Eu acredito no amor. 
É ele o que nos mantém em movimento, em busca de melhorias e renovando esperanças, a fé no futuro, em nós, em Deus, nas pessoas.
Eu acredito no amor porque ele é o único capaz de curar feridas, de fomentar mudanças, de ensinar, de construir. 
Eu acredito no amor incondicional, para aquele que não conhecemos ou não esperamos nada de retorno. O amor sublime a qualquer forma de vida, de expressão, de existência. O amor a ideias, o amor a sentimentos, à liberdade, à vida. 
Eu acredito no amor puro, sem interesses ou apegos, sem cobranças, sem dor, sem sofrimento.
Eu acredito no amor que releva erros, que sorri com aprendizados e que, carinhosamente, nos impulsiona para o caminho certo.
Eu acredito que o amor se constrói. Ele se vai tecendo, pouco a pouco, no nosso íntimo, até que um dia se torne rede e agregue cada vez mais valores que traspassarem nosso coração. 
Vai ficando mais e mais denso, e ao mesmo tempo mais sublime, mais universal, mais inexplicavelmente belo e iluminado.
Eu acredito no amor que é luz. Porque, como a luz, transforma em claridade o obscuro, espanta as sombras e traz o sol à noite, traz a felicidade aos momentos mais sombrios. O amor é capaz de transcender e, como a luz, se propagar, imbatível e inabalável, impetuoso, para onde quer que se direcione. Quanto mais se ama, mais ele se propaga. 
Eu acredito que as pessoas podem se amar e que existe um relacionamento em que haja amor verdadeiro. Um relacionamento não de abdicação, mas de compreensão e cumplicidade. Não de prisão, mas de liberdade e escolhas. Um relacionamento livre e espontâneo.
Eu acredito no amor da entrega, não para tornar-se de outrem, mas para, ao confiar, ser compreendida em essência por outra alma, compartilhar os sentimentos e experiências mais profundas com outra criatura que aceite a sua luz e propague a sua própria, em conjunto.
Eu acredito que o amor, entretanto, possa dizer não, não para punir, mas para educar. Porque o amor também é próprio, e ele não permite sofrimento. O amor, por ser compreensão, compreende que, por vezes, uma incompatibilidade ideológica torna a convivência mais dificultosa. Sem fazer juízo de valor, mas postergando entraves. A tendência é que, amando, a tolerância e empatia cresçam, mas não se pode esperar de outrem o que ele não é capaz de fornecer. Por esse motivo, por vezes, é importante dar a quem se ama o espaço, tempo e liberdade necessários para que reveja seus valores e crescimento próprio. O amor também é isso.
Por fim, acredito que o amor é o que criou tudo. O mundo, os detalhes, os seres. 
O amor é a centelha divina presente em cada criatura capaz de sentir, por isso não há nada mais perfeito e mais sublime que sua expressão, da forma mais pura e elevada que se possa fazê-lo. 
Eu acredito no amor, não porque vejo o amor, não porque recebo o amor, nem somente porque o sinto. Eu acredito no amor porque sou de amor.
E não se pode negar a própria essência.

domingo, 5 de junho de 2016

Alquimia

Hoje faço meu coração de líquido 
Não para que derrame sangue, 
Nem derrame água,
Mas para que transborde

Disso espero uma correnteza
Que, forte, arraste a mim,
Arraste as impurezas,
Arraste você

Hoje eu faço meu peito d'Água,
Para que se tenha cede, (mate)
Se fizer dor, chova

Quero assim portanto agora
Fluido pois quando se molda
Não mais se parte