quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Pouco sinto quanto devo
quê me faz, senão ficar 

sob os silêncios das palavras
só não digas me escavar 

tu mal sabes quem sou eu
tu nem sabes o que doeu
tu só sabes das mentiras
que contastes sendo eu

lastimável, tua máscara
um dia cai, sejamos francas

impecável, para os tolos
e aos cegos por tuas bandas
já vai tarde,
não me enganas

se em teu íntimo a dor grita
só tenho eu a lamentar
não fui eu que acendi o fogo
sob o qual irás queimar

tua consciência cedo ou tarde
saberá que apontar

eu aguardo, o tempo é justo
não preciso
desculpar.

já fui
a tola
a tentar.

agora eu resto,
ao que me resta,
descansar.

estou em paz.

vá-te já.

não espero.


adeus

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Conectados

se somos matéria mesma da Terra,
somos filhos do centro, e do topo.
conectados.

somos da mesma matéria do dia que amanhece,
do sol que nos ilumina,
de todos os seres que evoluem 
na natureza,
conectados.

da mesma matéria do ar que nos enche os pulmões
de cura, de combustível 
para todas nossas células,
conectados.

da mesma matéria do amor que nos percorre,
simplesmente por estarmos vivos mais um dia.
sim, essa vida que insiste em pulsar
também é uma forma de amor.

se somos tudo isso,
conectados,
percebo a mim em ti e também
 nas nuvens que refletem as cores,
todos nós conectados.

por isso sou feliz por saber que sou muito,
muitas
e muitos.
hoje sinto gratidão por mais um dia,
conectada.

🌼✨🌱

domingo, 11 de março de 2018

Manifestação

Eu gosto muito de ver como a natureza se manifesta.
Especialmente os seres mais simples que posso ver, como uma formiga, um passarinho e, principalmente, as plantas.
Uma planta não tem um sistema nervoso complexo; muito menos tantos órgãos tão bem desenvolvidos e elaborados dentro de si. Ainda assim, são capazes de nascer, crescer, procriar, e morrer.
Nesse meio do caminho entre o chegar e partir, conseguem exercer seu papel. Modificar a composição química do solo, do ar, servir de alimento, sombra, abrigo.
E elas não estão preocupadas, e nem podem.

Olhando esses seres, que simplesmente fluem no ritmo da vida, que parece estar impresso no seu fluido vital, eu lembro muito daquela passagem, “Olhai os lírios do campo.”
Os lírios não se preocupam, e nem podem, e ainda assim cumprem seu papel na natureza. Nós, ainda mais complexos, por que não o teríamos capacidade de realizar? Nós, igualmente pertencentes à natureza, por que não haveríamos de cumprir nosso papel na existência, simplesmente por fazer parte dela e deixar nossas pegadas?

Quando eu me sinto pequena, eu gosto de ver as coisas ainda menores do que eu. O que foi uma rocha hoje é areia, e nem por estar despedaçada perde sua importância.
A areia que já foi uma rocha sabe a dureza de ser uma rocha, e também sabe a fluidez que é ser grão; absorver, moldar-se, ocupar todo o canto e ir com o vento. E está tudo bem.

Hoje a areia é pequena. No entanto, embora sua pequenez, cumpre seu papel, e deixa o pedaço de mundo ao qual pertence diferente com a sua existência. Já foi rocha, já foi areia, e tudo na vida segue sendo um processo.

Não importa o que aconteça.
As pessoas continuam passando nas ruas, o vento continua ventando, o sol nasce e morre a cada dia.
E está tudo bem.
É preciso ter olhos de olhar os lírios do campo.
Os grãos de areia.
E o sol em nós,
que nasce e morre,
um pouco
e de novo,
a cada dia.
E também o seu brilho que continua o mesmo,
apesar dos dias.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Caminhos

A gente tem que ser grato sim.
A gente tem que ser grato porque não há certo e errado, só tem o que nos faz bem.
E isso pode ser hoje uma coisa que há dois meses era diferente. Não existe nada de errado nisso.
A principio parece confuso, porque “não temos parâmetros”. Como não?! Temos o mais confiável de todos: o estado presente. Como nos sentimos agora. Nossa consciência atual.
A gente tem que ser grato por se sentir perdido, porque é assim que nos encontramos. Essa história de ter certeza é para os cavalos de antolhos. Eles têm certeza que só há um caminho, mas só porque não tem ideia da imensidão à sua volta.
A gente tem que estar incerto mesmo, porque a incerteza nos leva aos riscos. Os riscos nos levam às possibilidades, que nos levam a novos horizontes.
Pode nos levar a um abismo? Sim, podem. Mas também podem nos levar ao paraíso, e nunca saberemos caso não decidamos ir.
Também, eventualmente, o caminho até o abismo seja muito lindo, e teremos apreciado a viagem. A gente entra em pânico quando vê um abismo, mas quem disse que precisamos cair?! Podemos só ver que há um abismo. E voltar. Sempre.
Se viajamos, não ficamos no hotel com medo de conhecer novos lugares. Nós vamos conhecer tudo que pudermos, e não dormir se for preciso. Os passeios não são iguais, despertam coisas diferentes, mas todos são igualmente merecidos e gratificantes, porque todos valeram o conhecimento. 
Alguns valem a pena voltar a visitar, outros nem tanto, mas todos valeram a pena ter ido.
A gente tem que ser grato sim, porque temos a oportunidade de conhecer novos lugares, nem que esses lugares sejam dentro de nós, ou nos caminhos que se cruzam a cada dia.
A gente tem que ser grato porque somos livres, e com essa liberdade podemos ir exatamente até onde nos faz bem. No fundo, a gente sempre sabe a dose.
A gente tem que ser grato porque o que está frio esquenta, e o que está quente esfria, e isso mostra como tudo no universo tende ao equilíbrio. Isso é bom. Porque precisamos saber lidar com extremos, mas também precisamos entender que o equilíbrio é inevitavelmente o destino final.
Não existe nada errado. Não existe nada certo. Não existe nada sem razão, nem com completa razão.
Só existe a nossa percepção, as interações e as nossas escolhas.
A gente nunca sabe o que vai ser de hoje, muito menos de amanhã. E não existe nada certo nessa vida.
Exceto a gratidão.

A gratidão está sempre certa.